Depois de sentir a vertigem da entrega,
mergulhei nas costelas de todos os vendavais
como um oceano impaciente que parte,
a toda a hora, as amarras do querer
do porto de mim mesmo.
Depois de beber a luz espelhada no teu rosto
e de enrolar no estômago a saudade,
vejo-me agora quieto, manietado,
como se de repente não quisesse
parar de ler o poema inscrito no teu corpo.
Depois de sentir a tua língua apurada
a sussurrar, percebi, enquanto sorvia
os teus suspiros dedilhados num cântico
parecido ao que Pedro fez a Inês,
que a vida estremece ao som de música.
Depois disso, sei que há destino
para a inexplicável poesia do presente.
Jaime Portela