À margem dos sentidos
que as mantêm cativas,
trago comigo palavras
soltas
que me querem decifrar,
que lutam entre si
para me retalhar
indignamente
e devassar esconderijos
que eu próprio
desconheço.
Destes pássaros
altruístas,
que cantam por tudo e por
nada
continuamente de graça,
não fujo nem me salvo,
porque entre eles e eu
há uma certeza cravada
que se arruína
mal se constrói à deriva
no não dito,
naufragando sem rumo
nas brumas do sentido.
Entretanto, em fila
indiana,
o rebanho manso das
palavras
vai sendo riscado em
poemas
vivos de pássaros
pousados nas linhas,
que se organizam
na mira dos contornos de
um retrato
que só desvendado
adivinho.
Jaime Portela